Desde que visitei a Nicarágua em 2012, a vontade de voltar era grande, e desta vez visitei a cidade Colonial de Léon, a segunda maior depois da capital do país, Managua.

León está situada a 96 km a noroeste de Managua e 18 km do Oceano Pacífico, e tem menos de 400 mil habitantes. Cidade charmosa com casas coloridas, León é o ponto de partida para conhecer vários vulcões, fazer trilhas, e até pegar altas ondas no Oceano Pacífico. Como já havia dito no outro blog, a Nicarágua possui 19 vulcões, sendo 8 ativos (Cosi Guina, Momotombe, Cerro Negro, San Cristóban, Las Pilas, Massaia, Concepción e Telica).

Nesta viagem escalei três deles, o Cerro Negro com 728 metros de altitude, Momotombe com 1297 metros, e o Telica com 1061 metros.

Como sempre, gosto de viajar nas primeira horas do dia, e desta vez embarquei as 6 da manhã de Birmingham, Alabama para Miami e depois um voo direto para Managua.

Um probleminha de distração e perdi meu voo em Miami, aí tive que embarcar em um outro bem mais tarde. Cheguei em Managua a noite, e como seria complicado para ir até a rodoviária, decidi tomar um taxi até Léon. Paguei 70 dólares e a viagem durou 1 hora e 20 minutos.

A pousada que escolhi chamava se Colibri e era bem simples porém efetiva. Reservei um quarto só para mim porque ronco bastante e também gosto de minha privacidade. Os banheiros eram fora e não havia ar condicionado, o que tirei de letra, até porque o ar condicionado da parte superior de minha casa havia quebrado uma semana antes e resolvi não conserta lo para poder me acostumar com o calor. Deu certo.

Dormi a primeira noite tranquilo e pela manhã tomei várias xícaras de café na ampla mesa do saguão principal. Ali me debrucei nos mapas para conhecer a região para ver as melhores opções de trilhas e escaladas de vulcões. Escolhi o Cerro Negro com 728 metros de altitude, fácil de subir, e ainda com o bônus de descer um lado dele com uma prancha de madeira, podendo alcançar até 70 km por hora.

CERRO NEGRO;

Paguei $35.00 dólares e me juntei com várias outras pessoas em um micro ônibus que nos levou até o parque nacional. A viagem levou 1 hora e meia e foi tranquila. Entre esta pessoas que também iriam subir, havia um grupo de quinze meninas e dois rapazes, e eles vinham de várias partes do mundo para uma aventura espetacular. Eles compraram um pacote de 18 dias pelo site gaventures.com. Eles começaram a viagem na Península de Yucatán, no México, e sempre por terra foram visitar os sítios arqueológicos de Xanantunich no Belize, Tikal, na Guatemala, Copan em Honduras, e agora estavam na Nicarágua onde iriam conhecer vários lugares como a cidade colonial de Granada, o vulcão Massaya entre outros lugares interessantes. No Belize, eles pegaram um barco e foram até Cayo Caulker, uma ilhota espetacular onde pode se mergulhar ou fazer snorkel em lindos corais, incluindo o famoso Buraco Azul (Blue Hole) Coincidência ou não, eu já havia visitado exatamente todos os lugares que eles foram, sem exceção. Só com uma diferença, levei cinco anos em varias viagens com um custo relativamente alto, e eles fizeram em pouco mas de duas semanas, pagando apenas $2.700,00 dólares mais os atrativos a parte. Um excelente preço.

Cerro Negro é um vulcão jovem e apareceu em Abril de 1850, e por ser tão recente, tem apenas 728 metros de altitude. A subida foi relativamente fácil porque o terreno é rochoso e dá apoio aos pés. O visual é impressionante e fica cada vez mais interessante na medida que subimos. Fiquei um tempão observando as belezas naturais em todas as direções, e notei que o solo é bem quente devido ao calor da lava que rola embaixo da gente.

O instrutor nos deu umas dicas para descer deslizando com a prancha, e depois de umas cinco pessoas, lá fui eu. O segredo é freiar com os pés até um certo ponto, porque depois da metade do trajeto a prancha pega muita velocidade. Há vários casos de acidentes, e alguns com muita gravidade. Respeito é bom e conserva os dentes, portanto nada de bancar o herói aqui.

Minha descida foi rápida e meu tênis novinho foi para o brejo, pois gastou o solado de uma forma surpreendente. Foi nos dado um macacão e um par de óculos tipo de mergulhador, mas eles estavam tão riscados que resolvi usar os meus óculos escuros mesmo. Conclusão, ví com clareza mas as pedrinhas que bateram no meu rosto e cabelo acabaram deixando um monte de marquinhas nas lentes.

Minha dica para quem vai descer o Cerro Negro; há pranchas estilo snow board para quem tem bastante experiência, e as pranchas normais que usei que é para ir sentado. Use botas com meias 3/4 porque meu tênis gastou e deformou a sola, sem falar que encheu de pedrinhas durante a descida. Não use óculos escuros caros porque as pedrinhas irão riscar los. Se puder, leve um par de luvas baratas, tipo estas que vendem em postos de gasolina ou loja de materiais de construção. Não leve equipamento de fotografia ou filmagem, a não ser uma Go Pro, que por sinal é bem útil. Evitem levar mochila porque para descer a gente tem que inclinar o corpo para trás e carregar a mochila na barriga,o que não é nada legal. Leve 3 ou 4 garrafinhas de água, tomem café pela manhã e podem levar alguma fruta tipo manga, banana ou maçã. Boa descida!

Cheguei na cidade com uma baita de uma fome, comi um prato de espaguete alho e óleo com um filé de frango. Tomei um suco de manga e uma cerveja. Depois de um banho de água fria (morna), deitei com um ventilador na cara e dormi umas duas horas.
A noite já estava descansado, saí para caminhar na cidade e depois jantar em um dos inúmeros restaurantes bacanas que há em León. Desta vez tomei uns wiskies, cerveja e comi arroz com feijão misturado, salada e um bife na chapa. Muito bom.

Terceiro dia:

MOMOTOMBE;

Acordei as 5 da manhã, tomei aquele banho gostoso direto do cano sem eletricidade, fiz uns alongamentos e parti para encontrar o pessoal que me levaria para outro vulcão, o Momotombe.

Por sorte havia um grupo de surfistas da França que haviam alugado uma pick up Toyota 4×4, e aceitaram me levar com eles. Só paguei os $35.00 da agência.
Paramos em um posto de gasolina, comprei bastante água, 1 litro de leite, Red Bull e bolachas. O trajeto até o local de subida levou 1 hora e meia e fui atrás da caminhonete. Tomei até café enquanto estava lá atrás curtindo a brisa matinal e observando a bela paisagem Nicaragüense.

Já dentro do parque nacional, o trajeto ficou bem difícil e suei para me equilibrar na caçamba da pick up porque havia muitas raízes e enormes crateras em um terreno super íngreme. Paramos em um determinado local e começamos a longa caminhada para atingir o cume do vulcão.

Logo nos primeiros 4 minutos de subida minhas pernas deram sinal de dor, e foi assim o tempo todo, e houve vários momentos que simplesmente não aguentava mais.

O terreno mudava a cada 30 minutos de subida, ora era rochoso, ora arenoso, ora com vegetação rasteira e assim por diante. Quanto mais subia, mais difícil ficava, mas em contrapartida, a cada parada para um breve descanso, podia deliciar com a beleza impressionante do horizonte, onde podia avistar montanhas menores, o lago Managua e vários povoados da região.

Nesta jornada procurei esquecer meu trabalho, minhas obrigações e minha casa, mas lembrava das minhas filhas e de minhas motos que havia deixado na garagem, mas ali era exatamente onde queria estar.

O ar era puro e agradável, mas a subida continuava a ser penosa a ponto de passar pela minha cabeça se realmente conseguiria chegar no cume. Os Franceses, três rapazes e uma moça, me humilharam de tanta forma física. Eles sumiam na minha frente o tempo todo. Eu os alcançava nas paradas, e com uma cara meio sem graça respondia sua perguntas e dizia estava tudo bem. Eles me perguntaram umas oito vezes, sempre preocupados com minha integridade e capacidade de subir com eles.

Os últimos 30 metros para chegar no topo foram os mais difíceis, pois tínhamos que usar as mãos para se apoiar, mas as pedras eram soltas, e a cada passo dolorido dado para frente, a gente voltava dois para trás , era desesperador…Minha única esperança era quando olhava para cima e via os Franceses lá no alto, e aí pensava, se eles conseguiram, eu também iria conseguir!

Após passar por dificuldades incríveis, chegamos no cume, a cratera era enorme e o fortíssimo vapor de dióxido de enxofre não permitia que respirássemos com normalidade. Os olhos e a garganta ardiam muito e só podemos desfrutar da beleza daquele lugar único por alguns poucos minutos. Tiramos fotos, olhamos para todas as direções e iniciamos a descida.

Até para descer foi complicado, porque agora as pernas doíam ainda mais para segurar o corpo!  O trajeto de subida levou 3 horas e meia e para descer levamos 1 hora e meia. Fiquei acabado, mas feliz.

Cheguei ao Hostel detonado e cabisbaixo, só queria um banho e cama. Quando abri o cano para tomar o banho, surpresa, haviam cortado a água para reparo na tubulação da rua! Esperei uma hora, mas estava agoniado, então comprei 4 garrafas de 2 litros de água e tomei um banho delicioso com somente 2 garrafas. Dormi 1 horinha e saí a noite para jantar. Mal conseguia caminhar de tanta dor nas pernas…
Quarto dia:

Acordei meio dolorido, fiz alguns alongamentos, tomei meu banho frio, café e já estava pronto para mais uma aventura, a de subir o vulcão Telica com 1061 metros de altitude.
Este tour sai a tarde para poder ver as lavas com as cores laranja bem vivo, e a volta e feita com lanternas, já a noite. O tour começa as 2 da tarde e a gente volta as 9 da noite. Aproveitei a manhã para ir até a praia Las Peñitas, que fica a 18 kms de distância de León.
Peguei um taxi e me custou 9 dólares e levou 20 minutos. Um ônibus custa menos de 1 dólar, mas eu não tinha tempo de esperar o horário dele.

LAS PEÑITAS;

Uma praia bacana com areia escura e altas ondas, onde surfistas de várias partes do mundo se encontram, inclusive Brasileiros.
O local é bem deserto e passei a manhã toda nas águas mornas do Oceano Pacífico, e foi ótimo para aliviar as dores da escalada do dia anterior.
Tomei duas cervejas e comi um delicioso ceviche misto com frutos do mar e peixe.
Como não havia taxi ou ônibus para voltar para León, conversei com alguns moradores e consegui uma cara que me levasse de moto por $ 10 dólares. Bacana, cheguei a tempo para mais um banho e algumas frutas. Me apressei caminhando algumas quadras para encontrar com o grupo que iria subir o Telica.

TELICA;

Este é relativamente fácil comparado com o Momotombe, mas não tão fácil assim.
As trilhas iniciais são parecidas com as trilhas que estamos acostumados no Brasil. Sobe se um pouco, caminha se reto um pouco, desce um pouco e assim vai. Há muitas árvores ao redor para se apoiar e o piso é firme. A trilha é mista que dá até para descansar as pernas quando depois de uma subida íngreme, a gente caminha um pouco em um plano mais nivelado, oque alivia as dores nas pernas. O calor era forte com 37 graus e 98% de humidade relativa do ar, deixando a gente ensopado de suor. Para complicar um pouco começou a chover, e aí sim nós nos molhamos por inteiro. Após 40 minutos de caminhada, paramos debaixo de uma frondosa mangueira carregada de frutas verdes e maduras. Nosso guia subiu na árvore, apanhou várias mangas e jogou para todos nós que aguardávamos abaixo como crianças esperando doçes.

Seguimos pelas trilhas e quanto mais subíamos mais o tempo piorava, ameaçando chover. Como disse, as trilhas eram similares as que conhecemos no Brasil.

A última parte que leva a cratera, a vegetação é rasteira e não há mais árvores. Um frio com uma neblina molhada tomou conta da montanha e agora, depois de suado, molhado da chuva e com muito calor, passamos a sentir frio!

A chegada na boca da cratera foi emocionante, mas a neblina cobria todo o visual.
Ficamos ali mais ou menos uma hora e por sorte a neblina sumia por alguns segundos, permitindo a gente de ver a lava rolando lá embaixo, incrível.

Ah, o barulho deste vulcão é igual a de uma turbina gigante! É pura energia do vapor de dióxido de enxofre que deixa qualquer um emocionado.
Está escalada começou a tarde para que a gente pudesse ver a lava no escuro, tornando assim mais interessante, e a descida seria com lanternas.

Depois de ver esta maravilha da natureza em ação, iniciamos a descida com lanternas nas escuras trilhas que nos levaria até o carro de apoio que irei nos esperar. Logo que escureceu mesmo, caiu uma tempestade com raios e trovões assustadores, A cena era surreal, raios clareavam tudo, e os trovões eram ensurdecedores. Nossas lanternas iluminavam só onde dávamos  os passos, e ninguém conversava uma palavra. Acho que todos estavam tensos, bem pelo menos eu estava!
Após 2 horas e 20 minutos chegamos na Land Rover que nos aguardava. A chuva caia bem forte e os raios amedrontavam, e quando fomos sair com o carro, o alternador pifou, deixando nos na escuridão! Tivemos que abrir duas janelas e colocar as lanternas para fora até poder alcançar a estrada, e de lá foi mais fácil, mas mesmo assim continuávamos com as lanternas coladas no pára-brisa e no vidro de trás por segurança.

A noite a tempestade aumentou, e ainda assim fui jantar em um restaurante chamado Aíyoy, que servem comidas deliciosas. Convidei meu guia e seu ajudante, e lá trocamos bastante ideias. Tomamos o famoso rum Flor de Caña, envelhecido em barril de carvalho por 18 anos, e cerveja Toña. Comi camarão e carne e fui dormir como um anjo.

Na manhã seguinte peguei uma van até a capital Managua que levou 1 hora e meia.
Já no terminal rodoviário, peguei um taxi por 20 dólares até o aeroporto. Se quisesse pegaria um ônibus por $1 dólar, mas queria garantir meu voo e fui de taxi mesmo. A van de León para Managua custa $3 dólares.

E assim termina esta bela viagem a um país que é um espetáculo com suas belezas naturais impressionante. Na minha próxima viagem a Nicarágua, irei para uma ilha chamada Ometepe que fica no lago Cocibolca.

Uma dica para quem quer ver um vídeo de um ciclista tentando descer o Cerro Negro. Procurem no Youtube algo com bicicleta no Cerro Negro. Divirtam se é até o próximo blog.